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Eliminação de guias de transporte pouparia 20 mil milhões por ano
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- Criado em 29-04-2013
A caneta azul podia ir muito mais além dos cortes nas despesas sociais. A desburocratização pode poupar milhares.
Numa época em que os cortes nas despesas sociais se transformaram na obsessão máxima do governo, uma simples assinatura permitiria poupar mais de 20 mil milhões de euros por ano aos contribuintes. Mais do que os 15 mil milhões correspondentes à próxima tranche da troika ao país, empancados num novo plano de contenção de direitos adquiridos a milhares de portugueses.
As contas são do Fórum da Competitividade e dizem apenas respeito a uma pequena areia na engrenagem, as guias de transporte de mercadorias, uma ideia inovadora do executivo que tem vindo sucessivamente a ser adiada e que obriga as transportadoras que trabalham em território português a obter uma autorização prévia junto da autoridade tributária cada vez que precisam de distribuir um litro de leite.
Exemplo As novas regras, que agora se prevê entrarem em vigor no início do Verão, obrigam uma empresa de serviços de piscina ou ar condicionado que tem 20 viaturas na estrada e cujos técnicos executam instalações de máquinas ou reparos simples que foram planeados antecipadamente, a pedirem à autoridade tributária autorização para transportarem qualquer tipo de material. Neste cenário, o registo das guias de transporte é um esforço adicional, mas ainda assim alcançável.
Mas o caso muda de figura quando se trata da área dos serviços e manutenção. Centenas de diferentes peças de reposição, líquidos de refrigeração, tubos de diferentes diâmetros, produtos químicos para piscinas, parafusos, filtros, etc., devem ser transportados e registados antes de a viatura de serviço se pôr a caminho na estrada.
AT demora cinco minutos Cada viatura serve uma média de 10 a 15 clientes por dia. Ou seja, o inventário na viatura muda a cada serviço, o que resulta em igual número de procedimentos de registo. As Finanças garantem um tempo de reacção de cinco minutos, o que é pouco realista, especialmente em horas de ponta. Estimando em apenas oito minutos para estes requisitos administrativos, a perda média em termos de tempo é de de 100 minutos por dia.
Ou seja, mais de 30% do tempo de trabalho produtivo de cada técnico (de um total de oito horas diárias, três são gastas na carga e descarga, preparação e deslocações. O que representa apenas 300 minutos de trabalho produtivo.
Lucros só com frota parada A margem de lucro, incluindo os custos gerais, das empresas está muito abaixo dos 20% que os novos procedimentos vão implicar, o que significa que estas empresas de serviços só podem aumentar o seu lucro líquido, quando não prestam qualquer serviço. Para além desta constatação, o Fórum para a Competitividade refere ainda que cada carro de serviço terá de ser equipado com um computador, uma impressora portátil e uma ligação de Internet sem fios. Simultaneamente o técnico terá de ter formação para fazer, pelo menos parcialmente, o trabalho de um assistente de contabilidade. “Mais mil euros por cada carro de serviço pode não parecer muito”, refere ainda a mesma fonte, “mas em tempos em que estas empresas são muitas vezes incapazes de pagar os salários a horas, ou até mesmo de todo, este é um pedido ridículo e sem ética”.
Outro ponto importante é a quantidade de tempo de trabalho que poderia ser liberado na GNR, e que poderia ser usado produtivamente na prevenção do crime, em vez de se perder tempo a verificar papéis, refere ainda o Fórum.
Recorde-se que a associação que representa as empresas de distribuição, a APED, também tem alertado reiteradamente o governo para o impacto desta medida, que consideram inoportuna, burocrática e um custo acrescido para as empresas em ano de recessão.
in ionline | 29-04-2013 | Margarida Bon de Sousa